Após um ano de trabalho dedicado à promoção da literacia e sensibilização para a saúde do solo a nível local, o projeto-piloto Healthy Soils @Torres Vedras (Soil@TV) chegou ao seu final. A conclusão do projeto culminou com a assinatura, no passado dia 27 de junho, de um Acordo de Gestão Territorial para a Saúde do Solo, cocriado pelas partes interessadas envolvidas.
O projeto foi liderado pelo INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, em parceria com o Município de Torres Vedras, integrando o conjunto dos 34 pilotos do projeto europeu HuMUS – Healthy Municipal Soils, financiado pelo programa de investigação e inovação Horizonte Europa no âmbito da Missão Solo Europa. Este foi o único piloto a ser desenvolvido em Portugal.
Os principais resultados do projeto foram apresentados no dia 2 de julho, no âmbito do III Seminário de Agricultura Sustentável, organizado pelo Município de Torres Vedras. O momento foi marcado pela apresentação do Acordo de Gestão Territorial, considerado um marco no compromisso comum em torno da proteção e valorização dos solos no concelho.
Este acordo, resulta de um processo participado e colaborativo, partindo de uma inspiradora visão comum para 2050: “Uma comunidade que cuida de um solo vivo e saudável — que nutre pessoas, equilibra ecossistemas e fortalece a economia.” Assente na cooperação e na colaboração em rede, este inovador acordo envolve agricultores, associações, cooperativas, empresas, escolas, entidades de investigação e desenvolvimento, academia, financiadores, órgãos da Administração Local e cidadãos.
Entre os objetivos estratégicos definidos, destaca-se a melhoria da estrutura do solo, o aumento da matéria orgânica, a promoção da capacidade de retenção de água, o aumento da biodiversidade, a redução da utilização de adubos de síntese, herbicidas e pesticidas, bem como o incremento da literacia sobre a saúde do solo.
Com um horizonte temporal de 25 anos, foi delineado um plano de ação com metas intermédias para 2030 e 2040. Este plano assenta em 7 pilares que incluem a capacitação, a educação e sensibilização, a cidadania e literacia, a investigação e inovação, a monitorização, o financiamento e a política pública. Pretende-se, assim, estruturar uma resposta concertada e duradoura aos desafios em matéria de saúde do solo no território.
Para a concretização dos objetivos definidos, foram delineadas 31 iniciativas. Entre estas, incluem-se ações de capacitação sobre gestão sustentável do solo, a criação de uma rede de agricultores-chave, o lançamento de um programa de reconhecimento e valorização de produtos e produtores que adotam boas práticas, bem como o desenvolvimento de uma marca local distintiva, orientada para a promoção da literacia do consumidor.
No domínio da educação, prevê-se a constituição de redes de estudantes embaixadores do solo e a criação de um laboratório vivo na Escola Profissional Agrícola Fernando Barros Leal. Ao nível da investigação e inovação, destaca-se a definição de uma agenda de investigação e desenvolvimento centrada na regeneração e sustentabilidade dos solos, alinhada com a estratégia territorial, e que apoiará a implementação de um sistema municipal de monitorização da saúde do solo.
No pilar do financiamento, está prevista a criação de instrumentos que mobilizem capitais para projetos que promovam o uso sustentável do solo, valorizando o nexo entre solo, água e biodiversidade. Assumindo-se a política pública como um eixo estruturante, estão previstas iniciativas de relevo como a implementação de uma Unidade de Recolha e Reciclagem de resíduos plásticos agrícolas, essencial à consolidação de um ciclo produtivo mais orgânico e circular.
O projeto envolveu diversas entidades locais e nacionais, entre as quais o SmartFarm Colab, a Associação de Agricultores de Torres Vedras, a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, a Escola Profissional Agrícola Fernando Barros Leal, o Centro Educativo da Ventosa, a Junta de Freguesia da Ventosa e a Adega Cooperativa da Ventosa. Participaram vários agricultores, incluindo a Família Nicolau Wines, a Quinta do Infesto, a Família Chichorro, a Quinta da Rocheira e a Quinta da Caria, entre outros. Estiveram ainda envolvidos a empresa ORGO – Regenerative Biology Management, o Instituto Superior de Agronomia, a Caixa Agrícola de Torres Vedras, o LeaderOeste e a Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste.
O projeto contou com uma equipa e uma comissão científica de acompanhamento com carácter multidisciplinar, reunindo diferentes áreas do conhecimento com o objetivo de construir uma visão de longo prazo para a gestão sustentável dos solos no território de Torres Vedras.